A neve caía em flocos brancos por sobre as calçadas da cidade. No ar pairavam alegres cantos de Natal oriundos das casas da redondeza.
No passeio notava-se apenas pequenas marcas dos pés gélidos de um menininho. Sozinho, no meio daquela brancura toda, era um ponto rosado que caminhava ao léu. Seus olhos penetravam por entre as janelas das casas multicoloridas de luzes que piscavam sem parar. Os enfeites dum pinheiro próximo refletiam a luz dos círios acesos na soleira de um chalé.
O que significava tudo aquilo para ele, afinal?
Quem era aquele menino deitado na manjedoura, tão efusivamente aclamado por todos?
Ora, como poderia, em seus trapos, com o frio a cortar-lhe a pele, entender tal alegria?
Sofrimento sim, ele sabia o que era.
Ali fora, sem ninguém, que lamento triste formaria sua pobre melodia.
Sentado na beira da calçada, já cansado de seu andar sem rumo, adormeceu. Sobre si, amoldando-se a seu corpo, um pequeno boneco de neve se formou.
E, até hoje, ninguém sabe que fim levou aquele menino de cara suja, o engraxate que indagava: - Vai graxa aí, seu moço? -
Apenas cultiva-se ainda o costume de fazer um boneco de neve, parecido com aquele que um dia apareceu numa calçada de rua. Quem o fez, ninguém sabe. Sabemos apenas que, ao fazermos um boneco de neve a cada natal, ele parece criar vida e olhar entre as janelas de cada casa que brilha, parecendo ouvir cada canto entoado.
E, lá em cima, no céu, alguém por fim descobriu quem era o menino na manjedoura, e pode, enfim, esquecer o significado da palavra sofrer.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
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